O momento histórico que criou o expressionismo na Alemanha

Você já deve ter ouvido falar da vanguarda artística do expressionismo, e de como ela é associada à Alemanha.

O expressionismo se manifestou nas artes visuais, no teatro, na música e marcou também o cinema, a partir do filme que inaugurou o gênero, O gabinete do Dr. Caligari, de 1920.

O estilo é caracterizado por externalizar de forma exagerada e distorcida as emoções, principalmente de angústia, dor, melancolia, desespero, medo e outras sensações negativas.

Isso não aconteceu à toa: a Primeira Guerra Mundial, da qual a Alemanha foi protagonista, transformou o mundo para sempre, trazendo pela mortífera guerra tecnológica a desilusão com o progresso e um enorme trauma. 

O período que se seguiu na Alemanha, a República de Weimar, também foi conturbado, cheio de incertezas e violência, inclusive com a ascensão do nazismo.

A arte, como forma de expressão do espírito do seu tempo, captou esses sentimentos angustiantes e o mal-estar alemão do entreguerras pelo expressionismo.

Quer saber mais? Dois livros sobre esse movimento no cinema se tornaram icônicos: 

➡️  De Caligari a Hitler: Uma História Psicológica do Cinema Alemão, de Siegfried Kracauer
➡️  A Tela Demoníaca, de Lotte Eisner

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O que a Alemanha tem a ver com as origens do cinema?

No final do século XIX, algumas equipes pelo mundo trabalhavam em aparelhos capazes de criar a ilusão das imagens em movimento, gerando o que conhecemos hoje como cinema – e a Alemanha não ficou fora disso.

Na Alemanha, os irmãos Skladanowsky inventaram o bioskop (bioscópio) com esse objetivo, e fizeram uma exibição em 1 de novembro de 1895, cerca de 8 semanas antes da famosa exibição dos irmãos Lumière na França usando o cinematógrafo (considerado pela maioria como a invenção do cinema).

Para contar essa história, o diretor alemão Wim Wenders fez o filme Um truque de luz (Die Gebrüder Skladanowsky).

Quem quiser visitar alguns pontos de interesses ligados a essa história em Berlim e arredores, anota as dicas:

➡️  O bioscópio original pode ser visto no Filmmuseum Potsdam; 
➡️  Os irmãos Skladanowsky estão enterrados no Friedhof Pankow IV, em Berlim; 
➡️  Perto do cemitério ainda existe a casa onde os irmãos moravam, onde hoje há uma placa comemorativa, na Waldowstraße 28.
➡️  De lá é possível andar até a rua Skladanowskystraße, que leva o nome dos irmãos.
➡️  Berlim possui um Boulevard der Stars (boulevard das estrelas) na Potzdamer Platz, com uma estrela dedicada aos irmãos Skladanowsky. 

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Readaptação das famílias no pós-guerra

O fim da Segunda Guerra Mundial só aumentou a velha crise da família alemã. Em 1946, no pós-guerra, a Cruz Vermelha tinha cerca de 10 milhões de pedidos de crianças buscando os pais, mulheres os maridos, soldados suas famílias. 

Mas mesmo entre aqueles que sobreviveram e retornaram ao lar, muitos não conseguiram se readaptar à vida civil. Imagine que as mulheres passaram muito tempo sozinhas sobrevivendo e também tinham dificuldade de abrir mão da independência conquistada para se submeter aos maridos. Todos mudaram muito durante os anos de conflito, e nada mais era como antes.

O resultado: a taxa de divórcios subiu de 8,9 a cada 1.000 habitantes para 18,8 em 1948.

Esse relato de uma alemã publicado pela revista Constanze em 1948 é ilustrativo desse mal-estar do pós-guerra:

“Meu marido voltou depois de quase cinco anos em um campo de prisioneiros. Durante as primeiras três ou quatro semanas, ficamos muito felizes. Mas agora é uma briga atrás da outra. A razão: ele me dá ordens e nunca está satisfeito. Eu mudei tanto, diz ele, não sou mais uma esposa adequada. Eu tinha vinte e três anos quando nos casamos. Agora eu tenho trinta e um anos. Durante seis desses oito anos, estive sozinha e tive que me virar o melhor que pude. Agora que ele voltou, ele realmente deveria me dar alguma ajuda. Mas ele insiste que eu cuide de toda a casa (temos dois filhos adoráveis) enquanto ele se senta no canto, lê o jornal, reclama e dá ordens. Estes homens ainda não se fartaram de dar ordens? Ele diz que tem direito a um lar confortável. Mas, à minha maneira de pensar, ele não tem “direito” a nada. Como vamos conseguir que as coisas voltem ao normal?” 

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Como a ideia de raça afetava casamentos e filhos no nazismo?

Quem quisesse casar na Alemanha a partir de 1938 tinha que apresentar um certificado de “saúde” emitido pelo governo nazista, com a justificativa de que isso era necessário para purificar a raça. Era um tipo de “seleção artificial” de humanos.

Já no primeiro ano do nazismo no poder, 1933, uma nova lei obrigava a esterilização de homens e mulheres com qualquer tipo de deficiência ou que fossem diagnosticadas com doenças como esquizofrenia e epilepsia. Até 1939, 320.000 pessoas foram compulsoriamente esterilizadas no país por isso, três em cada quatro por deficiências intelectuais ou esquizofrenia.

A proibição de casamento de alemães arianos com negros, judeus, ciganos e outras “raças” consideradas inferiores veio em 1938. 

É importante lembrar que essas ideias eugênicas não eram exclusivas da Alemanha ou do nazismo. A eugenia foi, inclusive, teorizada no século XIX por um britânico. A diferença dos alemães nazistas foi criar todo um sistema e tomar ações concretas para colocar a eugenia em prática de forma massiva.

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Quem eram as guardas mulheres da SS?

Os campos de concentração da Alemanha nazista eram administrados pela SS, o que significa que os guardas (homens e mulheres) que cometiam as atrocidades contra as pessoas perseguidas pelo regime nos campos faziam parte dessa organização.

Entre os cerca de 250 mil membros da SS (1939), cerca de 3.500 mulheres foram treinadas no campo de concentração feminino de Ravensbrück (em Brandemburgo, ao norte de Berlim). Algumas delas ficaram em Ravensbrück, enquanto outras foram trabalhar na ala feminina de outros campos. As vagas prometiam altos salários com chance de promoção. 

Leia o que a premiada historiadora alemã Ute Frevert, especialista em história política, social e de gênero contemporânea e diretora administrativa do prestigiado Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, escreveu sobre elas:

[atenção: chocante, NÃO leia se for sensível a detalhes de violência – eu chorei –, tá?]

“Elas não agiam de maneira diferente de seus colegas do sexo masculino, torturando e abusando das prisioneiras, esmagando bebês contra as paredes e matando crianças enquanto suas mães eram forçadas a olhar. Elas selecionavam mulheres adequadas para experiências médicas e enviavam o resto para as câmaras de gás. Apenas o penteado e as roupas as diferenciavam dos homens da SS.”

Na parte 2 do episódio sobre mulheres no nazismo, falamos não apenas da colaboração, mas da resistência de mulheres ao regime. Ouça no site (link na bio) ou nas plataformas de streaming (buscando por Somos pq Fomos).

Fotos: Gedenkstätte Ravensbrück

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Qual foi o papel das mulheres na resistência ao nazismo?

Com líderes da resistência ao nazismo presos ou foragidos, as mulheres desses grupos mantinham a rede ativa e criavam novos núcleos. Elas distribuíam panfletos escondidas, ajudavam famílias de presos ou assassinados, e escondiam foragidos em suas casas. 

O longa-metragem Jojo Rabbit mostra um pouco disso. Ele é inclusive um dos filmes que vamos discutir em abril, no nosso mês especial de cinema para entender a história da Alemanha.

Infelizmente esses grupos de resistência não foram suficientes para desestabilizar o nazismo. O partido era bastante eficiente esmagando a oposição, e punia com severidade aqueles que se colocavam contra os planos do regime. Ainda assim, muitos arriscavam suas vidas para resistir.

Na segunda e última parte do episódio de março, falamos mais sobre as mulheres alemães durante o regime nazista e no pós-guerra.

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Como os jovens participaram do nazismo?

Fazer parte de uma das diversas organizações para jovens do regime nazista era muito atrativo para a juventude alemã: era uma oportunidade para se divertir e fazer amigos longe dos pais. Isso, para as meninas, que eram muito mais presas à rotina familiar, podia ser um alívio.

A maior parte das atividades envolvia exercícios físicos, algo importante na sociedade ariana de Hitler. Mas se para os jovens fazer parte desses grupos era principalmente uma questão de vida social (e a ideia de comunidade era sempre reforçada), o partido usava essa lealdade da juventude não apenas para incutir a ideologia nazista desde cedo, mas também para alistá-los para trabalhos voluntários de guerra ou fora dela (colher frutas, avistar inimigos, atender telefone etc.).

Só que nem toda a juventude foi cooptada pelo partido nazista! Havia grupos de jovens contra o nazismo, como a Swingjugend (norte da Alemanha) e o grupo proletário Edelweißpiraten (oeste), entre outros. 

Na semana que vem vamos falar um pouco mais sobre o papel das mulheres na resistência ao nazismo. Quem quiser saber de tudo com mais detalhes, ouça o episódio com toda a contextualização das mulheres durante o nazismo.

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