Hamburger Bahnhof: uma estação de trem convertida em museu no centro de Berlim

Foto: Carmen Guerreiro

A Hamburger Bahnhof era uma estação de trem do século 19 que conectava Berlim e Hamburgo (por isso “Hamburger”).

Ela foi inaugurada em 1846, um momento de enorme crescimento de Berlim por causa da industrialização.

Ela não conseguiu acompanhar esse inchaço da cidade e aumento do volume de tráfego ferroviário, por isso foi fechada em 1884.

Durante 20 anos depois disso, o espaço foi usado como residência e administração local, até se tornar um museu de transporte e construção em 1904.

Como boa parte de Berlim, a estação sofreu gravemente com os bombardeios do final da Segunda Guerra Mundial.

Com a divisão da capital alemã entre as potências vencedoras da guerra, a Hamburger Bahnhof ficou exatamente na fronteira, porém do lado ocidental.

Foto: Carmen Guerreiro

O Muro de Berlim, construído em 1961, passava colado nela.

Por isso ela ficou sem uso por décadas, até que foi parcialmente restaurada pelo lado ocidental como parte da comemoração dos 750 anos de Berlim em 1984.

A Hamburger Bahnhof foi completamente reformada após a queda do Muro e reaberta em 1996 como um museu de arte contemporânea.

Hoje ela é a única estação de trem preservada (ainda que reconstruída) de Berlim da sua época.

Você já visitou a Hamburger Bahnhof?

Ela faz parte do conjunto de museus estatais de Berlim, por isso não apenas a entrada é gratuita nos primeiros domingos do mês, como você pode fazer um cartão anual a partir de 25 euros que dá acesso a todos os museus do grupo.

Uma das exposições atuais é a “Broken Music Vol. 2 – 70 Years of Records and Sound Works by Artists”, sobre a os discos de vinil historicamente como plataformas de música e de artes visuais.

A exposição vai até 14/maio.

Assista ao vídeo que fiz sobre a Hamburger Bahnhof no Instagram.

Fonte texto: Staatliche Museen zu Berlin – Preußicher Kulturbesitz.
Fonte imagens: Arquivo pessoal – Carmen Guerreiro

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Os danos causados pelo acidente de carro no Portão de Brandemburgo

Foto: Carmen Guerreiro

Estive no dia 17 de janeiro (2023) no Portão de Brandemburgo para registrar o estrago feito no monumento pelo acidente do carro que colidiu entre duas colunas no início da mesma semana.

Ainda não se sabia a causa do acidente (atualmente se trabalha com a hipótese de suicídio), apenas a identidade do motorista (um homem de 26 anos), que faleceu no local, que agora está isolado por uma grade.

As colunas estavam cobertas por uma substância branca, aplicada com o objetivo de retirar o óleo que ficou impregnado no monumento após a colisão.

Em poucos dias começaram os reparos ao Portão do século 18 e ao piso, porém o frio aumentou a previsão de reparo por causa da temperatura ideal das substâncias utilizadas.

Um engenheiro de estruturas também ficou responsável por avaliar possíveis danos estruturais mais profundos ao monumento, e após alguns dias concluiu que a estrutura não foi afetada.

A boa notícia é que, segundo a empresa que é responsável pelas propriedades do Estado alemão, a reforma do Portão deve durar um mês e meio, ficando pronto no começo de março. O reparo foi estimado em 39 mil euros, porém até o momento ainda não se sabia quem arcaria com esses custos.

As duas fotos abaixo foram tiradas por mim com 10 dias de diferença, a primeira no dia 17 de janeiro e a segunda no 27.

Fonte texto: informações da rbb24.de.
Fonte imagens: Arquivo pessoal – Carmen Guerreiro

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Os 4 maiores traumas da história alemã

A Alemanha tem uma história que compartilha momentos e processos com seus vizinhos europeus, mas também eventos específicos que moldam a experiência de ser alemão: uma memória compartilhada – e repleta de traumas.

É o que defende o historiador da arte Neil MacGregor, que escreveu “Germany: Memories of a Nation” (Alemanha: Memórias de uma Nação – embora eu não tenha encontrado uma versão em português do livro).

“Esta é, em um sentido profundo, uma história tão danificada que não pode ser reparada, apenas deve ser constantemente revisitada”, afirma o autor. Confira os 4 eventos históricos, segundo ele, responsáveis por isso, no carrossel de imagens.

Os traumas históricos mencionados neste post (e no livro) são obstáculos para que os alemães se apoiem, como os EUA tanto fazem, em uma narrativa da nação. São tragédias que marcaram os povos desse território de tal forma que ainda podem ser observados em interações cotidianas e na autoestima do alemão. Da piada entre “wessis” e “ossis” (ocidentais e orientais) ao medo de agitar a bandeira alemã, passando pelo ressentimento com a França, eles estão presentes.

1. A Guerra dos 30 Anos: já comentei desse conflito aqui algumas vezes, e de como as guerras religiosas no século 17, de proporções continentais (mas lutada principalmente na atual Alemanha), foram absolutamente brutais e devastadoras para a população – alguns vilarejos perderam 80% de seus habitantes. Seus efeitos foram sentidos até pelo menos o século 19.

2. A invasão napoleônica: a forma como Napoleão e suas tropas foram tomando os territórios germânicos e dominando seus povos foi profundamente humilhante para a população.

3. O regime nazista: o que dizer sobre o governo que, com apoio de uma parte da população alemã, mudou os rumos da história global? Não apenas pelos impactos da guerra, mas de como o Holocausto transformou o sentido de trauma e os valores ligados aos direitos humanos em toda a sociedade (ocidental ao menos).

4. A divisão do país durante a Guerra Fria: o mais recente trauma (e cujos efeitos ainda estamos tentando entender) separa até hoje o país em muros invisíveis que envolvem valores, visões de mundo, desenvolvimento econômico, memórias, entre outros fatores.

Algum alemão que você conhece demonstra um desses traumas históricos?

Fonte texto: Neil MacGregor – Germany: Memories of a Nation, Penguin Books, 2014
Fonte imagens: Wikimedia Commons

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Mudanças na forma de guerrear

Por que a forma de guerrear hoje é tão diferente da medieval? Hoje temos exércitos formados por militares que recebem salário para defender seu país, como uma carreira, e na Idade Média quem lutava era principalmente a nobreza, mobilizada apenas quando necessário, sem receber pagamentos por isso.

No post explicando por que há tantos castelos na Alemanha, eu falo que os nobres cediam parte do seu território para outros nobres, em troca de proteção militar. Ou seja: se eles fossem atacados, era tarefa de seus vassalos nobres defendê-los.

Acontece que as monarquias absolutistas europeias fizeram o caminho contrário do feudalismo, enfraquecendo esse poder fragmentado da nobreza e centralizando o poder nos reis.

Isso foi acompanhado de uma desmilitarização da aristocracia. Lugar de nobre não era mais no campo de batalha, mas nas cortes.

Essa mudança no início da Idade Moderna foi chamada de Revolução Militar, e foi acompanhada também de inovações tecnológicas como a pólvora (que não foi invenção europeia, mas começou a ser adotada).

Isso também aconteceu porque os monarcas precisavam de militares mobilizados permanentemente, não mais temporariamente. É porque os Estados lutaram praticamente sem parar nos séculos XVI e XVII para afirmar ou romper seus domínios e influências na Europa e no além-mar.

Foram contratados, então, mercenários para defender cada território mediante pagamento (ou terras, ou, ainda, cidadania) – eles não necessariamente eram nativos desses lugares.

Você pode se perguntar: por que não recrutar camponeses dos territórios que precisavam de defesa? O principal motivo era o medo que os nobres tinham de armar essa população, que poderia se voltar contra os mais privilegiados.

Esses gastos da guerra permanente foram escalando de tal forma que nem o aumento dos impostos nem a prata vinda das Américas era capaz de pagar a conta dos Estados europeus – mas isso é assunto para outro dia.

Fontes:
ANDERSON, Perry.  O Estado Absolutista no Ocidente. In: Linhagens do Estado Absolutista, 2a ed., São Paulo: Brasiliense, 1989, pp. 15-41.
ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador – uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989, pp. 39-77.
MONTANARI, Massimo. A fome e a abundância: história da alimentação na Europa. Edusc, 2003.

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Por que tem tanto prato à base de farinha no sul da Alemanha?

Talvez você não saiba, mas a região da Baviera, no sul da Alemanha, e a Áustria têm mais variedade de pratos feitos com farinha (Mehlspeisen) do que no norte do país. O motivo? RELIGIÃO.

Mas não tem a ver com restrição alimentar, não. É que a Guerra dos 30 Anos, entre católicos e protestantes, devastou a Alemanha de jeito. Já mencionei aqui que em algumas regiões só se via bandos de lobos e outros animais selvagens pq a população foi dizimada de 17 milhões para 10 milhões (em alguns vilarejos, 80% da população morreu).

Muitos sobreviventes católicos em territórios que adotaram o protestantismo precisaram se refugiar em territórios católicos – e tem território mais católico na Alemanha que a Baviera?

Só que o excesso de pessoas em um pequeno território fez com que não tivesse carne para todo mundo. A solução? Ser inventivo com a farinha! 

Até hoje o sul tem uma grande diversidade de pratos maravilhosos, salgados e doces, à base de farinha. Qual é o seu preferido?

Foto: Takeway/Wikimedia

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Como economizar sabão e outros produtos na guerra

“Economize sabão! Porque ele é feito da gordura e do óleo que são tão necessários agora. Mas como? Nunca mergulhe o sabão na água de lavagem! Nunca o segure sob água corrente! Evite muitos sabonetes! Mantenha sempre a saboneteira seca! Não jogue fora as pontas do sabonete!”

Esse cartaz é apenas um exemplo da escassez de produtos que a Alemanha passou durante a Primeira Guerra. Como forma de compensar essa carência, o governo dava dicas de como conservar o pouco que se tinha e não desperdiçar.

Eram oferecidos até mesmos cursos, palestras, livros e cartilhas de como fazer mais com menos na cozinha, substituir ingredientes tradicionais e fazer os alimentos durarem mais tempo – com conservas, por exemplo, compotas, substituição do trigo pelo centeio no pão, da carne por laticínios e peixes.

Com a falta de alimentos já em 1915, segundo ano da guerra, as mulheres passavam longas horas em filas para adquirir produtos, muitos deles em falta, como manteiga, ovos e carvão. As que tinham condições recorriam ao mercado paralelo, com preços altíssimos para alimentos antes considerados básicos.

Com tantas dificuldades, muitas famílias buscaram produzir os próprios alimentos para escapar o máximo possível dessa carência.

Para quem quiser saber mais sobre o dia a dia e as dificuldades durante a Primeira Guerra na Alemanha, falei mais disso na parte 1 do episódio sobre História das Mulheres em março deste ano no podcast – está disponível no Spotify e todas as outras plataformas de podcast.

Se houvesse uma guerra onde você vive e faltasse alimentos, do que você sentiria mais falta (e até tentaria estocar?)

Fonte: exposição Berlim Global – Humboldt Forum e livro Women in German History, de Ute Frevert

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Wandervogel: a juventude rebelde alemã que queria se reconectar com a natureza

Querer se reconectar com a natureza não é algo nem de hoje, nem dos hippies nos anos 1960. Em diversos momentos da história, as pessoas (em especial os jovens) se rebelaram contra o sistema urbano e a industrialização, em que a vida é mediada (e por vezes dominada) pelas máquinas, para buscar uma vida mais simples no verde.

Na Alemanha, um desses movimentos foi o Wandervogel, também conhecido como pássaros migrantes, que surgiu na virada do século XIX para o XX no Gymnasium Steglitz, escola no sudoeste de Berlim, com passeios escolares.

Liderados pelo estudante Karl Fischer, os grupos de Wandervogel se tornaram uma associação e se multiplicaram pelo país, em especial entre jovens de classe média, chegando a somar 30 mil na década de 1920. Mas Fischer não seguiu com o movimento, sendo considerado muito autoritário.

Os membros desses grupos se caracterizavam por um uniforme típico, com bermudas, uma bandana vermelha no pescoço e um chapéu verde, além de uma capa. Juntos, eles caminhavam, tocavam música e dançavam, dormindo em celeiros cedidos por agricultores.

Os Wandervogel faziam isso também como forma de desafiar os valores burgueses da geração de seus pais, em um ato de rebeldia típico de muitos movimentos da juventude.

Com a ascensão do nazismo e centralização de todas as associações e movimentos sob o guarda-chuva do regime, os Wandervogel se dissolveram, e parte deles se integrou à juventude hitlerista, que também realizava acampamentos, embora não fossem com o mesmo propósito.

Para quem tem curiosidade, o Gymnasium Steglitz ainda funciona como escola em Berlim, e há uma lápide memorial para Karl Fischer no cemitério de Steglitz.

Não é engraçado pensar em um momento em que viver uma vida simples e em contato com a natureza era um ato de rebeldia? Conta nos comentários o que achou dos Wandervogel.

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Por que algumas comidas na Alemanha têm nome francês?

Se existem dois estereótipos fortes relacionados a idiomas, são os que dizem que a língua francesa é charmosa e romântica, e a alemã é agressiva aos ouvidos. Não concordo, mas de fato as duas têm uma sonoridade tão diferente que causa estranhamento ouvir palavras do francês no meio do alemão.

E não são poucas: Bouletten, Pommes, Friseur, Serviette, Trottoir, Abonnement, Garderobe… e a lista vai longe. Até mesmo o palácio de verão de Frederico, o Grande, tem um nome francês: Sanssouci.

É muito difícil rastrear a origem e influências de todas palavras, especialmente quando os países são vizinhos como França e Alemanha, e têm intercâmbios (e conflitos) durante séculos.

Afinal, a Alemanha disputou a região da Alsácia-Lorena por muito tempo com a França, e ambos os países invadiram e ocuparam um ao outro em diferentes momentos, a exemplo das guerras napoleônicas e da Segunda Guerra Mundial. A cultura francesa também serviu de exemplo e influência na Europa e mundo afora, e por muito tempo costumes, modas e comportamentos franceses (como a etiqueta à mesa) foram copiados, especialmente pela nobreza e a burguesia – e a Alemanha certamente não ficou de fora, vide o palácio de Sanssouci.

Mas hoje quero falar de uma influência bastante específica da língua francesa sobre a alemã, em especial na região de Brandemburgo e Berlim, e que fica evidente em algumas comidas que levam nome francês: a influência dos huguenotes. 

Esses protestantes franceses sofreram perseguição religiosa, e 20 mil deles foram convidados por Frederico Guilherme, duque da Prússia e eleitor de Brandemburgo, para migrar para a região. A Prússia emergia naquele momento, no século XVII, como um novo poder militar europeu, e o convite foi feito a pessoas qualificadas para contribuir com o desenvolvimento técnico e científico local.

Os huguenotes contribuíram não apenas com isso, mas com aspectos culturais como a alimentação. Exemplo disso são as bouletten, almôndegas que até hoje são chamadas pelo nome francês na região da antiga Prússia. 

O interessante é que atualmente chamar o prato de “Bouletten” ou de “Frikadellen” é uma pista se a pessoa vem da antiga Alemanha oriental ou ocidental. Há também outros nomes para as almôndegas na Alemanha em diferentes regiões.

Você conhecia essa influência dos protestantes franceses sobre a Prússia? O que achou?

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Um apelo às mulheres contra a Segunda Guerra Mundial

“Mulheres! Mães! Quando a infeliz guerra mundial começou em 1914, acreditamos nas mentiras da ‘guerra defensiva’ e admitimos que nossos filhos de 18 e 19 anos de idade corressem voluntariamente para o campo de batalha. Lamentamos amargamente e experimentamos em horrível agonia a mutilação, o desarranjo mental, a morte de nossos entes queridos.

Esposas e mães, acordem! Hoje, a Garde-Kavallerie-Schützendivision [divisão do exército prussiano] e muitas outras associações de voluntários já estão recrutando jovens de 17 anos. Mais uma vez nossos filhos devem ser expostos à maior brutalização moral em seus mais belos anos, mais uma vez devem aprender sobre assassinato e serem eles próprios assassinados.

Mães, vocês amam seus filhos?

Não sejamos culpadas uma segunda vez! Não permita que nossos meninos sejam usados para assassinato!

O sangue não foi derramado o suficiente? Não são os doentes, os enfermos e os aleijados suficientes? Podemos tolerar que nossos filhos ainda saudáveis abandonem seus corpos mal desenvolvidos ao açougue?

Mulheres, mães, salvem nossa juventude! Protejam o futuro de nosso povo!”

Desta vez vou deixar vocês apenas com o impacto desse documento, um cartaz direcionado às mulheres na véspera da Segunda Guerra Mundial que fotografei em um museu de Berlim, e imagens abaixo que fiz na ala de mortos nas guerras mundiais em um pequeno cemitério de Köpenick.

Que impacto isso causa em você, que já sabe o final dessa história? Deixe seu comentário.

Fonte: exposição Berlim Global – Humboldt Forum

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Comida de rico e de pobre? A visão alimentar medieval

Quem está acostumado com comidas simples não pode comer comidas requintadas, senão morre? Isso já foi considerado verdade no fim da Idade Média e começo da Idade Moderna na Europa. 

Hoje vou um pouco ao sul da Alemanha contar pra vocês a história do Bertoldo, narrada originalmente pelo escritor italiano Giulio Cesare Croce.

Bertoldo era um camponês que caiu nas graças de Alboino, rei dos lombardos, e acabou sendo nomeado conselheiro pessoal do rei. Com a alimentação da côrte, Bertoldo adoeceu rapidamente, e implorou para os médicos que lhe dessem feijões e nabos, segundo ele condizentes com a sua natureza. Os médicos recusaram e Bertoldo morreu, dizendo “Não coma tortas quem está acostumado a nabos”.

Mas, afinal, que moral da história é essa? 😂  A questão é que nesta época existia uma hierarquia de alimentos relacionada ao status social, chamada “a grande cadeia do ser”. Ela estava ligada aos quatro elementos, como já falamos da medicina outro dia. 

Quanto mais próximo da terra o alimento crescia, por este pensamento, mais próximo do inferno, então menos nobre. Então, por exemplo, bulbos e raízes, como cebola, alho, cenoura, nabo, eram vistos como “comida de pobre”. Não podia estar na mesa dos ricos.

Já as frutas que nasciam em árvores estavam no alto, então eram feitas para os ricos. E também por isso, pássaros como águias e falcões eram considerados muito nobres. Inclusive é comum o registro de gota entre nobres pela quantidade de carne que eles comiam de forma não balanceada. Muitos até morriam disso.

E essa divisão não era considerada ruim, não era uma punição. Não existiam ideais de igualdade, e os medievais acreditavam que um camponês e um nobre não eram pessoas iguais, inclusive em sua natureza, então para que fossem saudáveis era necessário respeitar essa essência, ingerindo alimentos de acordo com ela.

Você conhecia a grande cadeia do ser? Conta nos comentários o que achou da história do Bertoldo.

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