Por que a forma de guerrear hoje é tão diferente da medieval? Hoje temos exércitos formados por militares que recebem salário para defender seu país, como uma carreira, e na Idade Média quem lutava era principalmente a nobreza, mobilizada apenas quando necessário, sem receber pagamentos por isso.

No post explicando por que há tantos castelos na Alemanha, eu falo que os nobres cediam parte do seu território para outros nobres, em troca de proteção militar. Ou seja: se eles fossem atacados, era tarefa de seus vassalos nobres defendê-los.

Acontece que as monarquias absolutistas europeias fizeram o caminho contrário do feudalismo, enfraquecendo esse poder fragmentado da nobreza e centralizando o poder nos reis.

Isso foi acompanhado de uma desmilitarização da aristocracia. Lugar de nobre não era mais no campo de batalha, mas nas cortes.

Essa mudança no início da Idade Moderna foi chamada de Revolução Militar, e foi acompanhada também de inovações tecnológicas como a pólvora (que não foi invenção europeia, mas começou a ser adotada).

Isso também aconteceu porque os monarcas precisavam de militares mobilizados permanentemente, não mais temporariamente. É porque os Estados lutaram praticamente sem parar nos séculos XVI e XVII para afirmar ou romper seus domínios e influências na Europa e no além-mar.

Foram contratados, então, mercenários para defender cada território mediante pagamento (ou terras, ou, ainda, cidadania) – eles não necessariamente eram nativos desses lugares.

Você pode se perguntar: por que não recrutar camponeses dos territórios que precisavam de defesa? O principal motivo era o medo que os nobres tinham de armar essa população, que poderia se voltar contra os mais privilegiados.

Esses gastos da guerra permanente foram escalando de tal forma que nem o aumento dos impostos nem a prata vinda das Américas era capaz de pagar a conta dos Estados europeus – mas isso é assunto para outro dia.

Fontes:
ANDERSON, Perry.  O Estado Absolutista no Ocidente. In: Linhagens do Estado Absolutista, 2a ed., São Paulo: Brasiliense, 1989, pp. 15-41.
ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador – uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências. Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989, pp. 39-77.
MONTANARI, Massimo. A fome e a abundância: história da alimentação na Europa. Edusc, 2003.

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