O apelido que elas ganharam na história foi de Trümmerfrauen, algo como “mulheres dos escombros”, personagens que teriam trabalhado de boa vontade pela limpeza do entulho das cidades destruídas por uma nova Alemanha pós-nazismo.

Em homenagem a elas, há inclusive monumentos em diferentes cidades do país. Mas recentemente o mito das Trümmerfrauen foi questionado pela historiografia. Trabalhar nos escombros era considerado uma humilhação, uma punição extra dos aliados contra os alemães derrotados. Prisioneiros de guerra não deram conta da quantidade de entulho, e a população foi chamada para ajudar.

A historiadora alemã Leonie Treber mostra em suas pesquisas que, para serem “voluntárias” nos escombros, as mulheres recebiam na Alemanha ocidental um cartão de provisões de comida de uma categoria mais alta. Considerando que a população passava fome e as mulheres recebiam provisões mais baixas só por serem mulheres – mas paradoxalmente eram responsáveis por alimentar toda a família, levando em conta que 4 milhões de homens estavam mortos e cerca de 12 milhões presos –, o trabalho nos escombros era fruto do desespero. 

Mesmo assim, Treber revela em seu livro que o fenômeno não era de massa, como o mito leva a acreditar. Em Berlim, apenas 5% das mulheres se envolveram (cerca de 60 mil), e na zona britânica o número caiu para 0,3%. Na zona de ocupação da Alemanha oriental, o trabalho de limpeza das cidades era compulsório.

Falamos mais sobre o fardo que recaiu sobre as mulheres no pós-guerra na parte 2 do episódio de março.

Leia mais sobre o tema no livro de Leonie Treber: The Myth of the Trümmerfrauen (em inglês) ou Mythos Trümmerfrauen (em alemão).

Fonte: Dismantling the German myth of ‘Trümmerfrauen’ (DW)

Foto: Deutsche Fotothek

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