Os nazistas buscaram combater uma série de liberdades sexuais conquistadas na República de Weimar, que eram consideradas por eles “depravações” e formas de corromper a instituição familiar – cujo objetivo era gerar novos arianos (de preferência soldados) para o regime.

A República de Weimar é analisada por alguns especialistas como palco do primeiro movimento de emancipação homossexual do mundo. Nesse contexto, em 1919, foi criado pelo Dr. Magnus Hirschfeld, em Berlim, o Institut für Sexualwissenschaft (Instituto de Sexologia), que buscava ampliar a aceitação social da diversidade sexual por meio da ciência. O instituto se dedicava não apenas à pesquisa, mas ao atendimento médico da população e ao aconselhamento sexual. Hirschfeld defendia que a homossexualidade era uma variação biológica, como o daltonismo, e portanto era natural, e o que é natural não poderia ser imoral. Nos primeiros meses de Hitler no poder, o instituto foi saqueado e fechado, Hirschfeld perseguido e centenas de milhares de homossexuais enviados para campos de concentração:

“Em 6 de maio de 1933, seis semanas depois que a Lei de Habilitação fez da Alemanha uma ditadura sob o controle do Partido Nazista, caminhões com dezenas de estudantes nazistas e uma banda de metais encostaram em frente ao Instituto de Ciências Sexuais. Os estudantes bateram na porta. Eles exigiram falar com o Dr. Hirschfeld. ‘Você pode revistar a casa inteira, de cima a baixo’, disse-lhes a governanta do Instituto. ‘O Dr. Magnus Hirschfeld não está em casa’. Hirschfeld havia deixado a Alemanha em uma turnê internacional de palestras. Ele nunca mais voltou. Os estudantes saquearam o Instituto. […] Alguns dias depois, os estudantes alimentaram o conteúdo do Instituto de Ciências Sexuais às chamas de uma fogueira na praça ao lado da casa de ópera de Berlim, rodeados por uma multidão animada. […] Pouco depois da queima dos livros, o novo governo dissolveu oficialmente o Instituto de Ciências Sexuais. […] O incêndio na praça da Ópera foi um sinal dramático do ataque do novo estado fascista à ‘imoralidade’. Nos primeiros meses da chancelaria de Hitler, bares e clubes de gays, lésbicas e travestis como a Flauta Mágica e o Eldorado foram fechados, revistas como Girlfriend and Friendship foram forçadas a sair do negócio, livros como Mulheres Lésbicas de Berlim foram arrancados das prateleiras das livrarias. […] Em 1935, o novo regime tornou o parágrafo 175 [que proibia o sexo entre homens] muito mais rigoroso. A Gestapo orquestrou uma caça em massa a homens gays e enviou milhares para prisões e campos de concentração, onde muitos foram assassinados.”

Esse conteúdo faz parte do episódio de março do podcast.

Fonte: Sex and the Weimar Republic – German Homosexual Emancipation and the Rise of the Nazis, de Laurie Marhoefer.

>>> De fevereiro a abril de 2021 o SPQF produziu um podcast sobre história entre Alemanha e Brasil. Confira aqui a lista de episódios.

>>> Quer fazer um tour histórico de Berlim comigo?

>>> Você pode se cadastrar na newsletter para não perder as novidades.

>>> Siga o SPQF no Instagram.

Leia também