
Frederico, o Grande, foi o principal monarca prussiano, de um lado construindo uma reputação continental de um exército forte, disciplinado e invencível, que mais tarde tornaria a Prússia líder da unificação da Alemanha. De outro lado, Frederico era um homem ilustrado, refinado, apreciador das artes e da cultura, e isso se refletia nos rituais da sua corte em torno da mesa.
A Prússia era um Estado de guerra, por isso a rotina de Frederico II era diferente em tempos de paz ou de confronto. Quando não estava em guerra, os prazeres da mesa envolviam o rei por longas horas, em que ele comia e conversava.
Entre suas comidas preferidas estavam tortas, queijos, carnes de vitela e ovelha, sopas e peixes, com preferência por pratos picantes – na verdade ele pediu que TODOS os pratos fossem picantes, e seu chef preferido, André Noël, criou uma “sopa de pimenta” para ele, com noz moscada e gengibre.
Frederico II também amava sobremesas, e todos os dias anotava em uma lousa o que queria comer de doce no dia seguinte, entre frutas (frescas e em conserva) e confeitaria. Aliás, seu café da manhã era simples e doce: chocolate e frutas.
Em épocas conflituosas, Frederico II comia menos: depois da Guerra dos 7 anos, ele parou de jantar. Convidava de três a seis generais e alguns de seus cortesãos para discutir estratégias, e o jantar era servido somente quando o rei se retirava para o seu quarto.
Eventualmente ele acompanhava os convidados até a sala de jantar, onde continuava a conversar circulando pelo ambiente, mas sem comer.
Refinamento francês
Apesar de politicamente a Prússia ser inimiga da França, a arte, a cultura, o refinamento e os rituais de corte franceses eram admirados e adotados por Frederico II, que inclusive preferia falar em francês.
A refeição na corte era ritualística e estética, e buscava despertar os 5 sentidos dos convidados como forma de prazer. Parte dessa experiência eram os utensílios colocados à mesa, demonstrando uma enorme riqueza de louças que combinavam entre si e traziam o brasão da monarquia prussiana e as iniciais do rei.
Eram, portanto, símbolos de autoridade. Esses conjuntos demonstraram poder também por serem feitos de metais preciosos ou faianças (um tipo de cerâmica branca). Dresden também passou a produzir sua própria porcelana no século 18, que era conhecida como “ouro branco” pelo seu refinamento.
No entanto, quando a monarquia prussiana se endividava em guerras, Frederico II mandava derreter os conjuntos de prata e ouro, usados para impressionar, e em épocas de necessidade eram derretidos para fabricar moedas. Por isso também o rei passou a colecionar porcelanas, que traziam o valor estético sem o custo do ouro e da prata.
Aniversários na corte de Frederico II
Quando um membro da família real prussiana fazia aniversário, a festa durava o dia inteiro, começando com uma homenagem seguida de um parabéns, um almoço, e depois uma ópera, sendo encerrada à noite com um baile.
A comemoração era feita no palácio Monbijou, que ficava onde hoje é o parque Monbijou (do outro lado do rio da Ilha dos Museus, de frente para o museu Bode) e foi demolido em 1959 depois de ser danificado na Segunda Guerra.
Durante os períodos de guerra, os aniversários não eram comemorados. E a partir de 1765 as festas eram feitas no palácio do príncipe Heinrich (hoje da Universidade Humboldt, em frente à Bebelplatz).
Curiosamente, nas festas os cachorros do rei recebiam comidas mais refinadas do que alguns dos convidados que se sentavam em mesas adjacentes à principal. Enquanto os animais comiam perdiz, carne de veado, molho, manteiga e bolo, a refeição dos convidados que não se sentavam à mesa real tinha menos pratos e opções mais simples.
O conteúdo desse post faz parte da minha pesquisa para o novo tour de história da alimentação e da cerveja em Berlim, que devo lançar em abril/maio de 2023.
Fonte: revista Berliner Geschichte, edição 29 (Kulinarisches Berlin)
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