Max Steiner (que mudou o nome no Brasil para Marco Steiner) era um imigrante alemão dono de uma padaria e confeitaria alemã no centro de São Paulo. Em 11 de setembro de 1921, ele se irrita com o atraso dos correios para entregar a carta do seu pai, enviada dia 9 de agosto da Alemanha – o tempo normal de chegada, segundo ele, é entre 23 e 24 dias.

Max se preocupa com a saúde do pai idoso, torcendo para que ele não esteja mais na Alemanha, onde estava apenas visitando o irmão, pois talvez não aguentasse mais o inverno rigoroso com a sua idade.

Para atualizá-lo da vida no Brasil, ele não se alonga: escreve apenas que no dia anterior serviu de intérprete de colonos alemães, oito famílias vivendo em uma fazenda no interior, e compartilha sentimentos de desilusão com o sonho da terra prometida. 

“É uma coisa triste que acontece com pessoas assim, em todos os lugares quando elas vão embora da Alemanha, e você conhece a triste realidade, você sabe o que é alguém ter que se livrar de tudo o que estava costumado e era seguro, e aqui elas têm que ficar sem isso tão naturalmente, porque não podem tê-lo. Eu deixei as coisas em ordem por enquanto, mas não havia muito que eu pudesse fazer. Bastava que as pessoas se acostumassem e depois chegassem à conclusão de que, se tivéssemos trabalhado assim na Alemanha, com este modo de vida, teríamos nos tornado pessoas ricas.”

A carta de Max para o seu pai me impactou profundamente, por ser tão curta mas cheia de sentimentos, ressentimentos e frustrações.

Falamos no primeiro episódio sobre as altas expectativas de quem emigrou da Alemanha em busca de uma vida melhor, e de como, no Brasil, muitos tiveram suas fantasias destruídas pela realidade e suas dificuldades. Imigrar é um processo doloroso e difícil, e Max descreve bem a sensação de precisar se reacostumar com um modo de vida e uma forma como as coisas funcionam totalmente diferente. É sair da zona de conforto e aprender a lidar com uma nova realidade.

Outra frustração que aparece na carta é o quanto precisa se trabalhar no Brasil para se ter uma vida normal, quando não medíocre. Me lembra de brasileiros na Alemanha surpresos com o quão cedo os alemães saem do escritório.

O documento é de 1921, 100 anos atrás, mas os sentimentos de parte dos imigrantes continuam tendo paralelos através de todos esses anos. Com o que você se identifica na carta de Max ao pai?

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